Nova RDC 749 da ANVISA: Avanços na obtenção de bioisenção de medicamentos através da avaliação de permeabilidade em células Caco-2

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) desempenha um papel fundamental na regulamentação e aprovação de medicamentos no Brasil.

Recentemente, a ANVISA lançou a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 749, que introduz importantes avanços no processo de obtenção de bioisenção para medicamentos.

Um aspecto chave dessa nova regulamentação é a avaliação de permeabilidade em células Caco-2, uma abordagem alternativa inovadora com benefícios significativos no processo de bioisenção de medicamentos, disposta na Instrução Normativa – IN n° 182.

O que é a bioisenção de medicamentos?

A bioisenção é um processo pelo qual um medicamento similar pode ser considerado terapeuticamente equivalente a um medicamento de referência, sem a necessidade de realizar estudos clínicos de bioequivalência. Isso é possível quando o medicamento genérico/similar demonstra ser absorvido de maneira semelhante ao medicamento de referência, alcançando concentrações no sangue que são bioequivalentes.

Importância e metodologia da avaliação de permeabilidade em células Caco-2:

A nova RDC 749 introduziu a avaliação de permeabilidade em células Caco-2 como um método alternativo para comprovar a bioisenção de medicamentos. As células Caco-2 são uma linha celular derivada de um carcinoma colorretal humano e são amplamente utilizadas como modelo in vitro para estudar a permeabilidade intestinal.

Essas células são cultivadas em placas de cultura e formam uma monocamada que simula a barreira intestinal. Através da medição da taxa de transporte de uma substância através das células Caco-2, é possível determinar sua permeabilidade intestinal e prever seu comportamento de absorção no trato gastrointestinal.

A avaliação da permeabilidade em células Caco-2 envolve um protocolo com uma série de etapas. Embora os detalhes específicos possam variar dependendo dos requisitos do estudo, a seguir está um passo a passo modelo da metodologia e avaliação:

  1. Cultivo de células Caco-2:
    • Cultivo das células Caco-2 em frascos e meio de cultura apropriados, seguindo as condições de cultivo específicas;
    • Manutenção das células em uma atmosfera de 5% de dióxido de carbono (CO2) e 37°C.
  1. Preparação das placas de cultivo de células Caco-2:
    • Preparação das placas de cultura Transwell com membranas permeáveis (geralmente feitas de policarbonato) e tamanho adequado;
    • Imersão das membranas em uma solução de colágeno ou outros revestimentos adequados para melhorar a adesão celular.
  1. Semeadura das células Caco-2 nas placas:
    • Remoção do meio de cultura das células Caco-2 e lavegem das células com solução salina tamponada com fosfato (PBS);
    • Despreendimento das células do frasco utilizando uma solução de tripsina e promoção de uma suspensão celular em meio de cultura adequado;
    • Adição das células Caco-2 nas câmaras superiores das placas Transwell, permitindo que as células sejam semeadas nas membranas.
  1. Incubação e diferenciação celular:
    • Após a semeadura, as placas Transwell são incubadas em condições apropriadas para permitir a diferenciação das células Caco-2;
    • Aplicação do meio de cultura tanto nas câmaras superiores quanto nas inferiores para criação de um gradiente de concentração que mimetize a fisiologia intestinal.
  1. Monitoramento da integridade da monocamada:
    • Verificação da integridade da monocamada celular por meio de medições da resistência elétrica trans-epitelial (TEER) utilizando um medidor de resistência adequado;
    • Certificação de que a TEER atingiu um nível estável antes de prosseguir com os experimentos.
  1. Adição de compostos de teste:
    • Remoção do meio de cultura das câmaras superiores e adição do composto de teste (medicamento ou substância) em concentrações adequadas;
    • Incubação das células Caco-2 com os compostos de teste por um período de tempo especificado.
  1. Coleta de amostras e análise:
    • Após o período de incubação, coleta das amostras das câmaras inferiores para análise da quantidade do composto teste que atravessou as células Caco-2;
    • Realização da análise através de técnicas como cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC), espectrometria de massa ou outros métodos analíticos.
  1. Cálculo da permeabilidade:
    • Cálculo da permeabilidade do composto teste utilizando a fórmula apropriada, que envolve o cálculo da taxa de transporte através das células Caco-2, a área da membrana e o tempo de incubação.

É importante ressaltar que este é um protocolo básico e que pode haver variações nos detalhes e nas condições experimentais dependendo do objetivo específico do estudo.

Fig 1. Protocolo de avaliação de permeabilidade em células Caco-2

Benefícios da avaliação de permeabilidade em células Caco-2:

  • Redução de estudos clínicos: 

A utilização da avaliação de permeabilidade em células Caco-2 pode eliminar a necessidade de conduzir estudos clínicos de bioequivalência, reduzindo significativamente os custos e o tempo necessário para a obtenção de bioisenção de medicamentos genéricos.

  • Precisão e confiabilidade: 

As células Caco-2 fornecem um modelo relevante e confiável para avaliar a permeabilidade intestinal de medicamentos. Os resultados obtidos através dessa abordagem são altamente preditivos e podem fornecer informações valiosas sobre a absorção dos medicamentos.

  • Redução de testes em animais: 

A avaliação de permeabilidade em células Caco-2 oferece uma alternativa ética e sustentável aos estudos em animais. Ao substituir os testes tradicionais em animais por testes in vitro, podemos reduzir o uso de animais de laboratório, alinhando-se com os princípios de bem-estar animal.

  • Estímulo à pesquisa científica: 

A introdução da avaliação de permeabilidade em células Caco-2 na RDC 749 estimula a pesquisa científica e o desenvolvimento de novas metodologias in vitro. Isso pode levar a avanços significativos na compreensão da absorção de medicamentos e na melhoria dos modelos de previsão de permeabilidade.

A avaliação de permeabilidade em células Caco-2, introduzida pela RDC 749 da ANVISA, representa um marco importante no processo de obtenção de bioisenção de medicamentos. Essa abordagem inovadora traz benefícios significativos, como a redução de estudos clínicos, maior precisão e confiabilidade, redução de testes em animais e estímulo à pesquisa científica.

É fundamental que a indústria farmacêutica e os reguladores trabalhem juntos para implementar efetivamente essa nova regulamentação e garantir que os medicamentos genéricos disponíveis no mercado sejam de qualidade, seguros e eficazes. A avaliação de permeabilidade em células Caco-2 é uma alternativa segura para impulsionar a inovação e aprimorar a disponibilidade de opções terapêuticas para os pacientes.

Sobre a Crop

A Crop é um laboratório integrado de P&D especializado em serviços pré-clínicos de eficácia e segurança, utilizando metodologias alternativas de cultura celular e biologia molecular para as indústrias de terapêutica avançada, farmacêutica, ingredientes cosméticos e saneantes. 

Nossa missão é colaborar com o amadurecimento tecnológico de produtos e desenvolvimentos em ciências da vida: da ideia ao impacto, levando a ciência da bancada para o mercado e para as pessoas.

Nossa equipe de desenvolvimento de produtos desenvolve a avaliação de permeabilidade em células Caco-2 para obtenção de bioequivalência de medicamentos similares de forma ágil e custo-efetiva, alinhada às normativas regulatórias vigentes e ao mercado.

Entre em contato com nossa equipe e saiba como podemos contribuir: https://cropbiolabs.com.br/contact-us/

Referências:

ANVISA. Resolução da Diretoria Colegiada – RDC nº 749, de 05 de setembro de 2022. Dispõe sobre isenção de estudos de bioequivalência/biodisponibilidade relativa, Diário Oficial da União, 08 de setembro de 2022.

ANVISA. Instrução Normativa – IN n° 182, de 05 de setembro de 2022. Dispõe sobre a validação e ensaios de permeabilidade com células Caco-2, Diário Oficial da União, 08 de setembro de 2022.

ANVISA. Perguntas e Respostas – RDC nº 749/2022; IN nº 182/2022 e IN nº 183/2022, 19 de abril de 2023. Disponível em: https://www.gov.br/anvisa/pt-br/centraisdeconteudo/publicacoes/medicamentos/bioequivalencia/pr-749_2022_ver_01_19_04_2023-1.pdf

Author: Carolina Barizan, Biomedical Scientist – Marketing Analyst, Crop Biolabs

Crop Biolabs, Bringing Science to People.

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